Ricardo Ribeiro
ricardoribeiro@pimentanamuqueca.com.br
Conheci Solange antes da mesma se tornar celebridade como “a gaguinha de Ilhéus”. É uma mulher que enfrenta muitas dificuldades. Como tantas outras, não tem emprego, vive de bicos, embora possua talento não só para o humor. Jamais provei seus dotes culinários, mas Solange sempre garantiu que é cozinheira de mão cheia.
Quando vi Solange pela primeira vez, há mais de um ano, confesso que cheguei a prender o riso diante daquela gaga falante e naturalmente engraçada. Mas nosso amigo em comum, Fábio Magal, me fez perder as reservas. Ele mesmo deu uma estrondosa gargalhada e eu fui junto. Ri até chorar. Solange não ligava. Continuava a falar e a gente não parava de rir. E era assim em todas as vezes que nos víamos.
Certa ocasião, pensei em gravar um vídeo com a “gaguinha” e colocar no You Tube. O projeto nunca saiu da cabeça até que um dia outro amigo, o Emílio Gusmão, deu o ar da graça. E foi a partir daí que Solange pegou a estrada da fama, contando com a importante ajuda do radialista Erivaldo Vila Nova.
Márcia Goldschimidt, Hebe, Tom Cavalcanti, Pânico, Rádio Metrópole... A “gaguinha” ganhou o mundo como uma improvável repórter, que tagarela aos atropelos e topadas silábicas sobre tudo o que vê de ruim na cidade de Ilhéus. Na verdade, seu público nem está muito preocupado com a essência de suas críticas; o que se deseja mesmo é rir da repórter, claro.
Interessante é que, mesmo com a fama, Solange continuou vivendo no maior miserê. Viajou de avião para “Sun” Paulo, foi vista por mais de 1 milhão de internautas, arrancou risos, aumentou a audiência de programas de TV, mas a casinha da rua Luís Gama está na mesma. E é isso que a revolta.
Na semana passada, no programa Pânico na TV (Rede TV), Solange externou o seu drama. E acabou constrangendo o secretário de Turismo de Ilhéus (na falta do prefeito), exigindo do poder público a solução para os seus problemas pessoais. Solange argumenta que é hoje a “única pessoa que divulga Ilhéus lá fora” e que, por isso, deve ser reconhecida.
Que a gaguinha tem o seu talento e até merece um espaço fixo num programa de humor, não há dúvida. Agora, realmente não cabe à Prefeitura dar a ela um tratamento VIP porque se tornou celebridade. Ao poder público, compete governar para todos e não para os chiques e famosos, sejam eles gagos ou não.
Além disso, é questionável a suposta contribuição que a gaguinha afirma dar ao turismo na Terra da Gabriela. A menos que ela deseje ser garota-propaganda de um novo segmento, buscando atrair visitantes interessados em conhecer ruas esburacadas, esgoto a céu aberto e pontos de ônibus sem abrigo para os passageiros. Improvável.
Solange é humilde, simples e até inocente, e por isso mesmo deve ser orientada pelos mais experientes que a acompanham. Ou alguém vai acabar acreditando que ela tem sido usada como peça de um joguete político e, no final da história, pode terminar esquecida e ainda pobre, como tantas outras celebridades-relâmpago já construídas e desconstruídas pela web.
Ricardo Ribeiro é blogueiro e advogado
ricardoribeiro@pimentanamuqueca.com.br
Conheci Solange antes da mesma se tornar celebridade como “a gaguinha de Ilhéus”. É uma mulher que enfrenta muitas dificuldades. Como tantas outras, não tem emprego, vive de bicos, embora possua talento não só para o humor. Jamais provei seus dotes culinários, mas Solange sempre garantiu que é cozinheira de mão cheia.
Quando vi Solange pela primeira vez, há mais de um ano, confesso que cheguei a prender o riso diante daquela gaga falante e naturalmente engraçada. Mas nosso amigo em comum, Fábio Magal, me fez perder as reservas. Ele mesmo deu uma estrondosa gargalhada e eu fui junto. Ri até chorar. Solange não ligava. Continuava a falar e a gente não parava de rir. E era assim em todas as vezes que nos víamos.
Certa ocasião, pensei em gravar um vídeo com a “gaguinha” e colocar no You Tube. O projeto nunca saiu da cabeça até que um dia outro amigo, o Emílio Gusmão, deu o ar da graça. E foi a partir daí que Solange pegou a estrada da fama, contando com a importante ajuda do radialista Erivaldo Vila Nova.
Márcia Goldschimidt, Hebe, Tom Cavalcanti, Pânico, Rádio Metrópole... A “gaguinha” ganhou o mundo como uma improvável repórter, que tagarela aos atropelos e topadas silábicas sobre tudo o que vê de ruim na cidade de Ilhéus. Na verdade, seu público nem está muito preocupado com a essência de suas críticas; o que se deseja mesmo é rir da repórter, claro.
Interessante é que, mesmo com a fama, Solange continuou vivendo no maior miserê. Viajou de avião para “Sun” Paulo, foi vista por mais de 1 milhão de internautas, arrancou risos, aumentou a audiência de programas de TV, mas a casinha da rua Luís Gama está na mesma. E é isso que a revolta.
Na semana passada, no programa Pânico na TV (Rede TV), Solange externou o seu drama. E acabou constrangendo o secretário de Turismo de Ilhéus (na falta do prefeito), exigindo do poder público a solução para os seus problemas pessoais. Solange argumenta que é hoje a “única pessoa que divulga Ilhéus lá fora” e que, por isso, deve ser reconhecida.
Que a gaguinha tem o seu talento e até merece um espaço fixo num programa de humor, não há dúvida. Agora, realmente não cabe à Prefeitura dar a ela um tratamento VIP porque se tornou celebridade. Ao poder público, compete governar para todos e não para os chiques e famosos, sejam eles gagos ou não.
Além disso, é questionável a suposta contribuição que a gaguinha afirma dar ao turismo na Terra da Gabriela. A menos que ela deseje ser garota-propaganda de um novo segmento, buscando atrair visitantes interessados em conhecer ruas esburacadas, esgoto a céu aberto e pontos de ônibus sem abrigo para os passageiros. Improvável.
Solange é humilde, simples e até inocente, e por isso mesmo deve ser orientada pelos mais experientes que a acompanham. Ou alguém vai acabar acreditando que ela tem sido usada como peça de um joguete político e, no final da história, pode terminar esquecida e ainda pobre, como tantas outras celebridades-relâmpago já construídas e desconstruídas pela web.
Ricardo Ribeiro é blogueiro e advogado
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